A Maré

Era uma linha fixa que percorria um trajeto invisível e interligava seus olhares-horizonte.
Os sentimentos navegavam e aportavam em margens oculares opostas levando consigo a mensagem que queriam.
Quem via os sorrisos de ambos não sabia ao certo quem estava se rendendo e quem estava pronto para atacar.
O oceano os embalava até os braços um do outro.

A maré quando a lua arrasta o pensamento pra onde ela quer.


Premonição Onírica

Enquanto foi trocar a gravata que sujou com geléia, o seu café esfriou.
Faltavam poucos minutos para as nove, é verdade. Mas pensava ser impossível descobrir por si mesmo um bom dia sem ter consumido um reforçado café da manhã.
Fez uma nova bebida, desenhou estrados de margarina em sua torrada e, de repente, deu-lhe até vontade de comer um omelete com queijo que fosse bem convidativo a um suco de laranja como acompanhamento.
Os ponteiros avançavam e o fluxo de carros aumentava lá fora. Tudo bem, ele tinha o seu ritmo.
Fazia o seu próprio tempo e não dependia dos relógios de outrem para contar cada segundo da sua vida.
Agora, a vista comum, já estava atrasado. Ele confiava em si e isso era o que importava.
Mais uma olhada no espelho, e... pronto. Uma boa imagem para um homem bem sucedido.
Pegou as chaves de seu carro no aparador próximo a porta. Pôs a mão na maçaneta e quando puxou a porta, ouviu um rangido estranho como de um sino bem agudo e irritante. Ao deixar a porta entreaberta, sua visão foi ofuscada por uma luz bem clara e intensa que o fez pronunciar as primeiras palavras da manhã: _Cinco minutos.
Uma confusão se fez em sua mente e sentiu o corpo mole e um tanto sonolento.
_Só mais cinco minutos.

Quando a luz que parecia que iria o cegar atingiu o seu auge, ele enxergou um outro cenário. Tudo mais simples, sem a pompa do lugar de antes.
Tentou abrir totalmente os olhos e viu alguns porta-retratos e se reconheceu. Olhou ao redor e avistou um calendário. Três de dezembro de 2010. Olhou para o relógio e viu que já eram 8h da manhã e estava atrasado para a aula.

Após o ritual automático liderado pela pressa, pode refletir sobre o seu sonho.
Mal sabia ele que o seu futuro acabara de passar por seus olhos de esperança.

Divagação

Ter quase nada ou quase tudo ainda não é tudo ou nada; É quase.

Lacerda

O mulato descia o Pelô. Vinha em passos mansos pro chinelo não passar de liso naquelas pedras-sabão, apesar de todos falarem que ele era lento daquele jeito mesmo. Andava no ritmo do axé desbotado como se o branco quem estivesse tocando o tambor.

_Tá mancando, neguim? - gritou o vizinho.
_É não. - respondeu o rapaz que continuava o caminho andando de manso.

Ele não fugia do trabalho desde que aceitassem que ele o fizesse à sua maneira. O patrão beirava a moléstia da raiva quando via o moço do tererê levando as caixas de volta pro carro.

_É pra ficar direitinho, visse? - justificava a velocidade em questão.

Nunca ninguém tinha visto homem assim pra calmaria. O desespero nunca chegou nem perto dele e quando levantava já estava pronto pra resolver a questão. E ainda se gabava dizendo que o segredo era pensar duas vezes antes de agir. Nisto, o povo concordava porque o "bixin" pensava duas, três, quatro... E quantas vezes mais fossem necessárias. Em casa, pediu benção pra tia e foi pra rede esticar as juntas. A tia já o olhava com cara de quem comeu acarajé sem vatapá. Largou o pano de prato no ombro, apoiou as mãos na cadeira e já foi perguntando:

_Já se arrumou nos estudos por aqui?
_Ainda não, minha tia - respondeu após esticar os braços enxotando a preguiça que nunca ia embora e colocar as mãos sob a cabeça pra fazer de travesseiro.
_Pois então, dê um jeito amanhã mesmo senão eu vou ter que conversar com a tua mãe, entende?
_Beleza, minha tia.

A tia voltou pra beira do fogão pensativa. "O que será que esse menino tá pensando da vida? As coisas por aqui não são assim. Ainda quero que ele volte pra terra dele pra ele voltar pro rumo!", pensou.

Nessa mesma hora uma fitinha do Bonfim arrebentou em seu braço.

Na última vez em que falei com o Lacerda ele estava saindo de uma prova no CT da UFES. Estava super desapontado depois das férias frustradas na Bahia. Sem ainda entender o porquê de a tia o ter mandado de volta, ele conversou comigo:

_Rapaz! Eu realmente não sei o que deu errado. Eu agi exatamente como você disse e mesmo assim não deu certo. Acho que não vou conseguir o estágio de engenharia na empresa do meu tio.
_Pois é, rapaz. - respondi em tom apropriado - Acho que você não se comunicou bem.

Coitado do Lacerda.

Espermaumanóides

Eis o movimento repetido e ridículo.
Pessoas correndo atrás de cada novo ônibus que chega no ponto. Os veículos estão lotados mas elas insistem de forma hipócrita em dizer que o coletivo está vazio.
Tudo o que elas querem é chegar ao útero de suas casas e se prepararem para nascer junto com um novo dia.
É um fenômeno feio, escravizador e bestial.
Como havia trânsito nas trompas e os espermaumanóides lutavam incessantemente para entrar no carro, esperei 1h30mim na esperança de um óvulo vazio.
Mas depois de todo esse tempo, me toquei que esperar ônibus é foda; o meu trabalho estava um saco e o que eu realmente precisava era gozar do conforto do meu lar.
Enfim. Entrei em qualquer ônibus mesmo e após duas horas entre espera e viagem, cheguei em casa.
Agora fico pensando na correria que foi o dia e tento me lembrar de ir prevenido amanhã, quando recomeça a putaria.

Revoluções (que também fariam sentido)

Revolução Inglesa

Foi a manifestação da primeira crise no sistema da época moderna, identificada com o absolutismo. Ela criou condições indispensáveis para a Revolução industrial do século XVIII e que abriu o caminho para o avanço do capitalismo que, por ironia, se faz absoluto na ex-colônia inglesa e que hoje é a principal potência mundial. Isso se espalha para a maior parte do mundo. Com remorso da situação, a rainha convidou alguns líderes mundiais para tomar um chá das 5 que é uma típica tradição britânica. Como eram muitos os líderes e não havia chá suficiente, ela pediu mais erva emprestada para a vizinha. A outra a negou e disse que devido às condições monetárias, ela só poderia vender, e não dar a especiaria.

Estarrecida com a petulância da velha carcomida e dispensando a formalidade inglesa, Dona Beth encheu a mão na cara da fofoqueira aproveitadora, voltou pro salão onde estavam os líderes mundiais, subiu na mesa e disse "Eu quero que vocês se explodam! Só sei que quem manda aqui, sou eu!". A personalidade forte virou tradição entre as rainhas da Inglaterra. Os guardas reais conhecem essa fama e por isso ficam parados como estátua com medo da reação da manda-chuva. Não pensam nem no que aconteceria se eles deixassem o tráfico de erva tomar conta por lá.

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Revolução Industrial

Quando o homem achou que as máquinas o deixariam moderno, ele simplesmente saiu dos eixos.

Hoje todos nós sabemos que o homem tem um parafuso solto e outras dezenas a menos.

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Revolução Americana

Cansados de serem obrigados a trabalhar em péssimas condições e com medo dos acessos de raiva da rainha Beth, os funcionários do McDonald’s de 13 lojas: Massachusetts, Rhode Island, Connecticut, New Hampshire, Nova Jersey, Nova York, Pensilvânia, Delaware, Virgínia, Maryland, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Geórgia entraram em greve. Os revolucionários tiveram a ajuda dos franceses que enviaram tropas na qual chamaram operação French Fries.

Com essa situação, os colonizados passaram a plantar seus próprios alimentos para manter o seu sustento. Com alimentos saudáveis, aos poucos a saúde dos colonos foi se restabelecendo e muitos entraram para lutar na revolução apenas porque tinham perdido muitos quilos e gordo quando perde muitos quilos quer fazer tudo o que não podia fazer antes.

Entre 1812 e 1815 houve o último confronto e enfim os Estados Unidos conseguiram sua independência. No acordo, além do desligamento mor da Inglaterra, os EUA também conseguiram o direito de terem melhores condições em suas lanchonetes e venderem seus hambúrgueres obrigatoriamente com mostarda e picles, o que levantou a ira da Dona Beth que adorava o seu sanduíche com molho inglês. Mas ela nada pode fazer na época.

No século XX surgiu, por meio de um grupo de fãs do estilo da rainha, a lanchonete Burger King. Lá, o cliente escolhe como quer o sanduíche e prova que é desnecessário o imperialismo entre duas fatias de pão com gergelim e que na monarquia pode-se sim ter a participação do povo.

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Revolução Francesa

Esta se encerrou com um golpe aplicado pelo general que fazia parte da banda podre do militarismo francês, Napoleão Bonaparte.

Um tempo depois, já recuperado, Bonaparte fundou o seu próprio negócio e passou a ganhar a vida honestamente gerenciando a sua própria rede de restaurantes que prevalece até hoje com franquias em diversos lugares e tem como diferencial a sua maionese.

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Revolução Mexicana

Foi uma bagunça desde o início. Os líderes produtores de pimenta malagueta se sentiram prejudicados quando leram "Produtos ACME" nas latas de pimenta dos desenhos animados americanos. Quando surgiu o "Ligeirinho" eles acharam que iriam melhorar as vendas com a inclusão de merchandisings.

Porém, quando viram que o rato mexicano americanizado só dizia 'Ariba, Ariba!' eles ficaram revoltados. Ariba era uma marca intermediária de pimenta malagueta.

Com a propaganda, ela alcançou alto índice nas vendas e disparou na preferência popular. As outras marcas faliram e seus responsáveis tiveram que buscar outras alternativas de sustento. Parte deles se uniu e criou a Zapata Sombreiros ME.

Outros mais visionários criaram a Agência Pancho Villa que 'facilitava' o ingresso de mexicanos nos Estados Unidos. Logo receberam o apelido de 'coiotes' mas não gostaram porque lembravam o coiote do desenho americano que usava sempre os produtos ACME.

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Revolução Chinesa

Houve várias revoluções dentro dessa e disputaram quem era o chinês mais inteligente para conquistar o poder. De inteligência por inteligência, dominaram o mercado da tecnologia barata e do pastel. Também investiram na educação e na criação de empregos para crianças. Milhões de chinesinhos aprenderam a profissão de se fabricar tênis e logo em suas primeiras aulas na escola já aprenderam a escrever as letras N – I – K – E, e a contar moedas de 5 e 10.

No Brasil, há centenas de submáfias de olhos puxados que controlam o mercado de tecnologia, pastéis e produtos alternativos. Todos eles se intercomunicam periodicamente e enviam as atualizações dos negócios daqui lá para a China para prestar contas ao grande chefe da máfia chinesa: o Panda Comy-Bambú.

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Revolução Russa

Culminou na derrota do partido bolchevique e na estabilidade do poder soviético. Formado apenas pela classe trabalhadora, os peões soviéticos se reuniam para encher a cara de vodka barata e darem "showzinho" em cima das mesas. Naquele lugar que em que neva o tempo todo, qualquer um que visse um homem barbudo de braços cruzados e tremendo por causa do frio, escorregando no gelo e usando um chapéu gozado veria que ele só estava bêbado. Mas confundiram isso com danças e roupas típicas e essa merda é cultura até hoje.

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Tez versus Tempo

Hoje não me sinto bem.
Ainda é o mesmo corpo, o mesmo tipo desesperado;
o que é cheio de algo mas ao mesmo tempo nada tem.
Luz, não-luz e os ventos do oeste continuam deixando os pensamentos tortuosos
e o enfado se renova consumindo o tempo como se nunca envelhecêssemos em
pele e em percepção.
Preso em laços próprios e só a cabeça gira desnorteantemente, realizando
um movimento vazio e sem sucesso. Ainda não foi liberto. Ainda não se sabe da liberdade.
Ainda não se sabe nada.
Hoje não me sinto bem.

Menina de Ouro

A família voltava de um churrasco no apartamento de um casal de amigos e, já no carro, a caçula puxa um assunto.


_Mãe, eu quero morar onde os Alves moram.

_O quê? Minha filha, você não gosta da nossa casa?

_Ah, mãe... Gosto. Mas é que os Alves moram no segundo andar e dá pra ir de elevador.


A mãe já conhecia aquela conversa. Em todas as visitas que faziam, a mais nova sempre falava sobre se mudar. Se encantava facilmente com uma portaria, um playground e mais ainda pelo elevador.


_Já pensou se o meu primo vier morar aqui mesmo? Vou vir aqui todos os dias. Aí vamos poder subir e descer no elevador o dia todo.


O pai, que dirigia atentamente, ouviu a mãe dizer para a filha:


_Já que você quer tanto morar em apartamento para ter um elevador, peça a Deus para casar com um homem que more num prédio. Assim você vai poder andar todos os dias.


Como se visse na mãe a pessoa mais insensível do mundo, a menor respondeu:


_Ah, mãe! Aí eu já vou estar grande e não vai ter mais graça. Eu quero mudar logo.

_Certo. Faça o seguinte então: – disse a mãe na tentativa de consertar a frase anterior – peça a Deus para que o seu pai ganhe muito dinheiro. Assim nós poderemos, quem sabe, mudar para um apartamento.

_Hum... Eu já faço isso todas as noites.

_Ah, é? – perguntou a mãe curiosa – e o quê exatamente você fala pra Deus?

_Eu digo pro meu pai ser rico.


Os pais riram da sinceridade da menina. Mas o silêncio dela acabou contagiando todo o carro. Ela estava pensativa.


_Filha, nós temos uma boa casa e um bom carro. Temos até algum dinheiro e por isso não há o que reclamar. – disse a mãe tentando quebrar o silencio da garota.


E como num súbito estalo de reflexão, a pequena diz:


_Mãe?

_O quê?

_Trocador de ônibus ganha bem?

_Ih, minha querida, ganha muito pouco.
_Nossa! Coitado do tio Reginaldo.

Raisa Zan ao vivo no Twitcam

Céu


É preciso fazer um poema sobre o céu.

Mas eu nunca fui lá.




(Adaptado: Drummond, Carlos - Lanterna Mágica; VIII Bahia)

Amarante


E o garoto chega da rua. Desce de sua bicicleta celeste, entra em casa de sopetão e arrasta o all star pro canto. Chega barulhento e é barulho de fome porque de sorte sabe que a mãe já fez o mingau. É certo também que não se aguenta de vontade de tocar o violão e cantar o que viu naquele dia. Porque pra ele é fácil, nunca vi assim.
E lá vai ele com o Giannini, papel e lápis. Toma um guaraná aos goles ticos e finge ser boêmio. E o menino escreve. Escreve empatias e quimeras; vontades, paixões e decepções. Ah, menino... deixa a gente ouvir a sua música também?

"O rio fica lá
A água é que correu
Chega na maré
Ele vira mar
Como se morrer
Fosse desaguar
Derramar no céu
Se purificar
Ahh, deixa pra trás

Sais e minerais, evaporar."

Esse menino vai longe...

Pensamentos Informais

Poderia ser o bastante pra mim levantar às 5h da manhã para ir pra faculdade.
Poderia ser o bastante, talvez, ter confundido os cremes e quase ter escovado os dentes com creme de barbear. Mas não. Eu tive que jogar a escova fora e, consequentemente, implicar a ação de ter que comprar uma nova. Enfim. Fui à farmácia.
Pensei em comprar a escova mais barata pra economizar. A de R$ 7,00 reais, não. A de R$ 5,50? Hum... ainda não vale a pena. Promoção? É sério? Leve 2 e pague... R$ 12,00 reais? Que tipo de promoção é essa?
Aqui! R$ 3,50. É da Johnson&Johnson, então deve ser boa.
Pronto! É só isso. Agora vou ao caixa pagar e... olha... Cepacol...
Ah, a escova foi barata. Então dá para comprar o Cepacol.
Agora sim. É só pagar.
Poxa... esse casal tá na frente. Mas não tem problema é só esperar eles pagarem e...
huumm... hehehehe. Preservativos sabor melancia?
Hahá!

Que seja. Aí, minha vez!

_Boa tarde!
_Boa.

Estou com a sensação de esquecer alguma coisa. Talvez se eu der uma olhada nas prateleiras...
Ah! Lâmina de barbear. É isso!

_Esse aqui também.
_São R$ 18,95.
_Aqui.
_Certinho, senhor. Obrigada.

Então, é isso.
Fui à farmácia para comprar uma escova de dentes barata e acabei voltando com Antiséptico Bucal e Prestobarba também.
Será isso resultado do consumismo, o qual tanto estudo?
Que seja. Essa foi a primeira e única vez que confundo creme de barbear com pasta de dente.
Mas o que não consigo esquecer é que antes de mim, um casal foi ao caixa e comprou um pacote de camisinhas sabor melancia, o que me leva a refletir sobre:

Quem vai se divertir mais hoje?

Eles com suas camisinhas de sabores ou eu com o meu Cepacol de menta?
A resposta estava no sorriso daquela garota.

Mas hein, cumpadi...

Eu já vi chuva de granizo
Eu já vi enchente de maré
Muié que larga o marido
E o chifrudo dizer que não é
E o homem que beija homem
Que se arrepende e chega em muié
Que fica dias atrás da sujeita
Diz que com ela, ele se endireita
Mas ela sempre diz que não quer

Já vi rico gastar tudo e ficar pobre
E o pobre achar que é rico e gastar o que não tem
E quando tem criança desbocada
Chega o adulto pra dizer o que convém
E da desgraça se alimenta a prosa
E quem ganha é a doença mais dolorida
E daí que você trabalhou o dia todo?
Eu tô inchada!
Olha o tamanho da minha barriga!

Pode ser segunda ou sexta-feira
Empurra os outros em pé e vira criado-mudo sentado
O dia do trabalhador não está completo
Se ele não entrar num buzão lotado
E o motorista parece que não tem mãe
Pisa fundo e esquece de todo mundo
A curva do Saldanha ele ignora
E o gado lá atrás que se vire
Segura firme senão mistura tudo!

Doces Horas em Senhoras Dores

É em teus olhos que eu me vejo
No teu sorriso me acalmo
Em teus braços me largo
E faço repouso em teu seio

Enquanto nada me vem à cabeça
Eu posso ouvir o seu respirar
E no sublime me encontrar
Unido a um corpo que me aqueça

Em teu sussurro reajo em graça
Em tua voz me perco em paixão
Nas horas doces, tudo passa

Meu cabelo é caminho para a sua mão
Teu carinho é o que a faz se mover
E se move de manso até o meu coração


Métricas Forçadas

Segue a linha do sorriso que me traz

As lembranças do tempo que não volta mais

Os lugares que já fomos, guardaremos

Recordando velhos tempos tão serenos


Mais difícil foi fazer você sorrir

Cheguei mesmo até pensar em desistir

Tirei você do hotel naquele dia

Desejando sua boa companhia


No seu carpete você pisa de meias

Do seu quarto traz várias caixas cheias

São as fotos que guardou de outro verão

Lembra disso espalhando-as pelo chão


Você me mostra a sua preferida

Qualquer uma que te faz pensar na vida

Escolheu nossa última foto juntos

Nessa hora os olhares ficam mudos

Lovers In Japan

Amantes, continuem no caminho em que estão
Corredores, até que a corrida acabe
Soldados, vocês tem que ser fortes
As vezes até o certo é errado

Eles estão virando minha cabeça do avesso
Para ver do que eu sou feito
Mantém minha cabeça baixa
Para ver o como se sente agora
Mas eu não tenho dúvidas
Um dia, nós sairemos daqui.

Hoje a noite talvez fugiremos
Sonhando com o sol de Osaka
Ohohohoh ohohohoh oh
Sonhando com quando a manhã virá

Eles estão virando minha cabeça do avesso
Para ver do que eu sou feito
Mantém minha cabeça baixa
Para ver como se sente agora
Mas eu não tenho dúvidas
Um dia o sol irá sair

ColdPlay

Todavia

Amáveis amantes do amanhecer:
Virem-se para adiante e não para o ontem.
Não apenas lamentem as obras más que fizeram debaixo do sol, mas também movam-se para fazer com que o ritual diário que vimos anteriormente seja diferente do de amanhã.
Se acham que algo deve ser mudado, comecem por vocês.
Apreciem as boas companhias, os chinelos confortáveis e gastem mais tempo em suas refeições.
Resolvam dizer "Oi" para quem não espera isso de vocês.
Surpreendam.

Parece Bial, mas é Aleks sem inspiração.
Alguns podem até rir. Mas enquanto eu choro, Machado se contorce no túmulo e Gandhi zomba de todos os mortais por acharem que tudo que fala sobre a beleza da vida partiu dele. E após liberar suas lágrimas de riso, prepara o sermão sobre como o ser humano é incapaz de reconhecer que se ele não pode tornar o mundo melhor, ele pode se tornar melhor para o mundo.

Fotografia

Cores, sombras, tons e tatos. Da melancolia de Cartier Bresson à discrepância das obras de Oliviero Toscani, o mundo é registrado com um toque do indicador e outros vários toques de talento e sensibilidade. Dão-se voltas e giros mágicos como se o mundo parasse por meio de suas mãos e, se também paramos pra pensar, nós também nos sentimos estáticos ao ver algum momento digno de ser eternizado. O som ambiente pode ser captado mesmo que este não saia mais tarde no papel, o que na verdade não precisa, pois, se este for percebido enquanto o artista se debruça nas janelas da alma para ver além a vasta paisagem que há, a melodia será a mais doce e suntuosa possível. A imagem revelará sentimentos, reações e, até mesmo, sons que já foram anteriormente sentidos pelo romântico com as lentes em punho.

Quando uma criança corre brincando de pique ao cair da tarde ou quando a ave desce em vôo rasante já com sua presa em vista, há certo clima que talvez jamais se repita. Esta atmosfera preciosa pode ficar pra sempre em nossa memória, mas se perde em detalhes se tentamos dividi-la com alguém. A melhor maneira de compartilhar isso que move o nosso íntimo é por meio das fotografias. São elas que te proporcionam o afloramento de emoções diversas e que podem facilmente te levar do riso ao pranto a partir de uma lembrança captada.

O mais fantástico de todo esse universo é justamente ele proporcionar o registro de um momento de rápida ação em algo totalmente quieto e, por assim ser, toda a harmonia, destreza e formosura em qualquer coisa acessível às mãos humanas.

O palpável e o que se dissipa, o que é fixo e o que se desprende; o que é possível e o que se achava não ser. Nenhum momento digno de registro se esvai pelos olhos acalentadores do fotógrafo.

No Porão da Alma

Chega uma hora em que se descobre que a raiva que se passou não valeu de nada.
O tormento continua. Então você aprende a se manter calado, frio. Aprende a usar o porão da tua alma pra penalizar assuntos dos quais não se sente a vontade de enfrentar todos os dias e obter sempre os mesmos resultados. Há sempre o desejo de liquidar aquilo, acabar, matar aquilo. E como a morte física arca grandes consequências, muito mais pra você do que pra sua vítima, você se mantém frio. E daí para a solução é uma questão de tempo. Você aprende com os erros e estende a sua frieza cefálica e neural até os seus sentimentos. Anula as pessoas que te importunam e as ocasiões que elas causam. Ignora quem te faz se sentir uma péssima pessoa. Daí você leva alguns meses até encontrar a sua libra. Se equaliza.
Respira fundo e acaba aceitando as diferenças um dos outros, sempre mantendo a linha tênue entre o que se deve ou não levar em consideração.

Amar

Amar é sempre ser vulnerável.
Ame qualquer coisa e certamente seu coração vai doer e talvez se partir. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto , você não deve entregá-lo á ninguém , nem mesmo a um animal. Envolva o cuidadosamente em seus hobbies e pequenos luxos, evite qualquer envolvimento, guarde o na segurança do esquife de seu egoísmo. Mas nesse esquife – seguro , sem movimento , sem ar - ele vai mudar. Ele não vai se partir – vai tornar se indestrutível, impenetrável , irredimível.
A alternativa a uma tragédia ou pelo menos ao risco de uma tragédia é a condenação.
O único lugar além do céu onde se pode estar perfeitamente a salvo de todos os riscos e pertubações do amor é o inferno.

CS Lewis.

O Velho e o Moço

Deixo tudo assim
Não me importo em ver a idade em mim
Ouço o que convém
Eu gosto é do gasto

Sei do incômodo e ela tem razão
Quando vem dizer, que eu preciso sim
De todo o cuidado

E se eu fosse o primeiro a voltar
Pra mudar o que eu fiz
Quem então agora eu seria?

Ahh, tanto faz
E o que não foi não é
Eu sei que ainda vou voltar
Mas eu quem será?

Deixo tudo assim, não me acanho em ver
vaidade em mim
Eu digo o que condiz.
Eu gosto é do estrago.

Sei do escândalo e eles têm razão
Quando vem dizer que eu não sei medir
nem tempo e nem medo

E se eu for o primeiro?
A prever e poder desistir
do que for dar errado

Ahhh
olha, se não sou eu
quem mais vai decidir
o que é bom pra mim?
Dispenso a previsão

Ahhh, se o que eu sou
É também o que eu escolhi ser
aceito a condição

Vou levando assim
Que o acaso é amigo do meu coração
Quando falo comigo, quando eu sei ouvir.

Rodrigo Amarante

Semibreve - Um Até Logo em Dó Maior

Não deve ser nenhum atrevimento dizer que a música é uma porção terapêutica para o ser humano. Ela faz bem ao corpo, mente e alma, isso de acordo com o devido fim que se dá a ela e com a necessidade que cada qual a escuta. Ela move tanto as pessoas que alguns se sentem na condição de fazer algo recíproco a ela. Estes nada mais são do que filhos da música. Quem nasce com toda a disponibilidade sonora deve sim ir em busca do aperfeiçoamento assim como é comum para qualquer outra tendência vocativa natural. E de repente é essa entrega, essa dependência, essa vontade e talento que serão determinantes para, um dia, se chegar a certeza de que se fez algo realmente útil para si e, quiçá, para os outros. A música pode incitar diferentes estados humanos. E quando um jovem, por exemplo, se afasta de uma situação teoricamente confortável de já ser aluno de um curso em uma universidade federal e ter um estágio garantido para provocar uma revolução em sua vida tentando suprir a realização de uma vontade fixa em sua mente e coração, com certeza a trilha sonora de sua vida é bem típica de filmes de aventura moderna. A maioria destes filmes que vi tem uma bela história e pode-se acreditar que o capítulo do filme de Maycon de Souza Lima que será gravado em sua terra natal, São Paulo, além de uma boa história, também poderia concorrer tranquilamente ao Oscar de Melhor Trilha Sonora.


"A boa música nunca se engana, e vai direita, buscar ao
fundo da alma o desgosto que nunca devora."
Stendhal – escritor francês

Universo Paralelo

A frase do post anterior:

"Estamos todos no mesmo universo".

se refere ao meio físico.


Mas mando um abração para os internautas do outro tipo de Universo Paralelo (ou realidade secundária): Míope sem óculos e toda a galera do Scracho.

(iehaiuaeheai)

De ontem em diante

Verei mais vezes o retilíneo horizonte marítimo realizar a inversão do fenômeno da aurora porque no profundo o oceano sabe a responsabilidade que tem de despertar os seres iníquos da Terra.
Mas ainda assim ele, em toda a sua nobreza, o faz sem intenções de permuta. Logo ele, gelado em si e escuro em seus desígnios. Ele mesmo serve de espelho para as vaidosas estrelas.
Incessantes damas luxuosas que ostentam um brilho único que apenas o ambiente noturno arraigado à claridade lunar é digno de adornar a festa daquelas que são invejadas por suas luzes ímpares.
Luzes essas que não podem jamais ser comparadas com a do nosso anfitrião. A saber: o Sol. De forma única ele lidera as demais estrelas, favorece a lua em sua formosura e faz do oceano o seu grande cenário para suas resplendorosas manobras diárias.

De ontem em diante me farei sensível à todos estes, e à todos aqueles. À todos eles que fazem parte do meu dia e que por cegueira social eu não os enxergo.
Estamos todos no mesmo universo.

Pesadelo do Jovem Alienista

¹
É bem verdade que tem-se tudo por relativo.
Embora se esforce para ser absoluto, vira e mexe questiona soluções para algo ainda não explicado, algo que foi completamente trocado em excelência pela vil confusão.
Tem cobiçado valores alheios até certo ponto. Ponto este em que, por bom senso, avalia pela óptica na qual foi orientado durante toda a sua vida. Mas não há razão lógica em se fazer uma coisa considerada certa se um mundo de pessoas que o cerca enxerga que a confusão não está naquilo que ele julga por assim ser, mas a insanidade habita o desprezado e trêmulo interior do juiz de si mesmo.
-------------------------------------------------------------------
²
[_Pois bem, meritíssimo abastado em pseudo propriedade de si; tu que é sábio, esclarecido e autoproclamado Rei (dos trouxas): que farás agora que viste que onde parecia estar verde, está seco, e onde parecia irrelevante, suspira por vida?

_...

_Como todos imaginavam.
]

[sonho]
-------------------------------------------------------------------
³
Aos Rubiões, aos Bacamartes, aos pacientes, aos de Kafka e aos de Machado.

Por algum motivo os escrevo, de certo que nem mesmo eu, o autor destes traços morfológicos, sei ao certo o porquê de lhes tomar precioso tempo.
Os amigos me desculpem pela petulância, mas os senhores são aqueles dos quais mais estimo e muito tenho aprendido.
Pela manhã irei até a capital. Anseio avistar alguns dos senhores.

Passar bem;
O Jovem Alienista.
...................................................................


¹A primeira parte é um desabafo em forma de autoavaliação crítica por parte do Jovem Alienista.
²A segunda parte é um pesadelo que teve no qual sua própria consciência culpada o interroga.
³O Jovem Alienista supões um reencontro com alguns de seus amigos para colocarem os assuntos em dia.

O sertão do tempo

Eu paro por um minuto.
Mas há dias em que o tempo parece muito relativo. Tá... relativo mais que o comum. Alguns anos cabem em alguns segundos e a sensação é de que já estou bem mais velho.
Infelizmente isto me é familiar. É provocado pela inércia de ter amigos, um violão, canções escritas e não ter um pingo de iniciativa para se viver a jovialidade. Antigamente costumava-se viver bem com pouco. Isso porque se entendia que o pouco poderia ser muito e para isso bastava utilizar o prisma da boa vontade.
Hoje, com vinte anos, sinto que Ben Button sentiria pena de mim.
O acaso está brigado comigo e a previsibilidade é o que me certa por todos os lados.
No sertão de chatice, convivo com a seca de aventuras e, como diz o poeta, não sou eu quem mato o tempo; é ele quem está me consumindo e me matando.
Ainda tenho tempo para virar o relógio de areia. E é bom que ele não se quebre e enterre boas e divertidas histórias que meus netos gostariam de ouvir.

Cidadão Utópico - upgrade

É só o que me resta.

Mudar o visual de uma ferramenta que antes me parecia útil e que hoje é ofuscada por elementos mais compatíveis com o ativismo do ser humano.
Política, curiosidade, o atual, o sim e o não, nada mais importa.
Agora o que move este espaço volátil de ideias é o prazer de escrever.

O que me resta?
O que me resta é fechar os olhos, respirar fundo e, quando ousar escrever, o fazer como se eu ainda não soubesse o que acontece quando se deixa ser levado pelas palavras.