Menina de Ouro

A família voltava de um churrasco no apartamento de um casal de amigos e, já no carro, a caçula puxa um assunto.


_Mãe, eu quero morar onde os Alves moram.

_O quê? Minha filha, você não gosta da nossa casa?

_Ah, mãe... Gosto. Mas é que os Alves moram no segundo andar e dá pra ir de elevador.


A mãe já conhecia aquela conversa. Em todas as visitas que faziam, a mais nova sempre falava sobre se mudar. Se encantava facilmente com uma portaria, um playground e mais ainda pelo elevador.


_Já pensou se o meu primo vier morar aqui mesmo? Vou vir aqui todos os dias. Aí vamos poder subir e descer no elevador o dia todo.


O pai, que dirigia atentamente, ouviu a mãe dizer para a filha:


_Já que você quer tanto morar em apartamento para ter um elevador, peça a Deus para casar com um homem que more num prédio. Assim você vai poder andar todos os dias.


Como se visse na mãe a pessoa mais insensível do mundo, a menor respondeu:


_Ah, mãe! Aí eu já vou estar grande e não vai ter mais graça. Eu quero mudar logo.

_Certo. Faça o seguinte então: – disse a mãe na tentativa de consertar a frase anterior – peça a Deus para que o seu pai ganhe muito dinheiro. Assim nós poderemos, quem sabe, mudar para um apartamento.

_Hum... Eu já faço isso todas as noites.

_Ah, é? – perguntou a mãe curiosa – e o quê exatamente você fala pra Deus?

_Eu digo pro meu pai ser rico.


Os pais riram da sinceridade da menina. Mas o silêncio dela acabou contagiando todo o carro. Ela estava pensativa.


_Filha, nós temos uma boa casa e um bom carro. Temos até algum dinheiro e por isso não há o que reclamar. – disse a mãe tentando quebrar o silencio da garota.


E como num súbito estalo de reflexão, a pequena diz:


_Mãe?

_O quê?

_Trocador de ônibus ganha bem?

_Ih, minha querida, ganha muito pouco.
_Nossa! Coitado do tio Reginaldo.

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